As expressões atribuídas à espiritualidade franciscana, difundidas ao longo dos tempos, influenciaram várias interpretações dadas a elas. E foram causa de muitas disputas e grandes debates referentes ao modo de seguir o ideal legado por Francisco de Assis. Expressões como “radicalidade do Evangelho”, “pobreza evangélica’ e “nada de próprio’, foram e são as mais discutidas, refletidas, pois deram margem a várias interpretações, até mesmo contrárias umas das outras.

A linguagem da radicalidade gerou na Ordem Minorítica o ponto chave para determinar e caracterizar as diversas idéias sobre o modus vivendi dos frades. Ela representou para muitos grupos o seguimento ao pé-da-letra da Regra de 1223 e do Testamento de São Francisco sem alterações ou modos de interpretações. Para outros, significava a vivência dos preceitos de Francisco se adequando de acordo as novas realidades sociopolíticas, econômicas e religiosas encontradas.

O Evangelho e a Regra foram pontos de convergência para todos os grupos como forma de vida, porém, as práticas geraram muitos conflitos, debates, reformas, perseguições e cisões no movimento franciscano. De acordo com a interpretação de cada grupo, viver o Evangelho de Jesus em obediência, castidade e sem nada de próprio tomou, (e ainda toma), várias vertentes, umas mais maleáveis, outras mais ortodoxas.

Como ocorreu no fim do século XIII e meados do século XIV, quando ocorreram várias tentativas de interpretar a Regra de S. Francisco, como, por exemplo, a aprovação das Constituições de Narbona, sob o generalato de São Boaventura no Capítulo de 1260 e bulas papais, como as de Gregório IX e João XXII. Isso significou na Ordem uma busca de estruturação e unificação dos diferentes grupos contrastantes entre si.

As divergências de pensamentos demonstram a construção da identidade da Ordem, mesmo havendo várias concepções sobre a interpretação das palavras do Santo Evangelho e dos escritos de São Francisco. Porém, quando há perseguições e coação, isso demonstra uma crise ideológica, em que grupos mais fortes querem impor a sua concepção a outros menos fortalecidos.

Para buscarmos a solução destes e de outros tantos conflitos, é preciso buscar na raiz, na essência de nossa espiritualidade a forma vitae que mais corresponde ao frescor, com a novidade deixada por Cristo, o Santo Evangelho. Ele que foi inspiração de Francisco para intuir um projeto de seguimento radical do Cristo, é de extrema importância para nós que, hoje, somos inspirados a viver segundo os preceitos evangélicos.

O Evangelho tem muito a nos ensinar, ele é uma fonte inesgotável de vida e inspiração que é propulsora de transformação e irradiação do projeto deixado por Cristo. Se nos voltamos para as Sagradas Escrituras em uma posição de escuta e prontidão, ao abrir nossas mentes e corações para a Palavra de Deus, deixamos de lado rixas pessoais, disputas de poder, ódio e dissensões, para acolhermos uma posição de diálogo sincero e assim, permitiremos que o verdadeiro amor reine entre nós.

Por Frei Árlaton Luiz, OFM.
Elo Fraterno

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